Como sabem, tenho formação na área da PNI – psiconeuroimunologia clinica. E o que é isto de PNI?!
Vou então, dar-vos uma breve introdução teórica.
Tem sido grande a evolução dos conhecimentos das relações entre fatores psicológicos, neuro- endócrinos e imunológicos desde que Solomon (1 964) publicou o artigo intitulado Emotions, Immuniíy, and Disease: A Speculative Theoretical Zntegration no qual introduziu o termopsico-imunologia. Mais tarde, publicou a propósito dos efeitos supressores da imunidade relacionados com o stress (Solomon, 1969) e surgiu um outro trabalho significativo na história da psico-neuro-imunologia que introduziu a possibilidade de condicionamento das respostas imunológicas, na sequência das investigações clássicas de Ader e Cohen (1975).
Na década de 70 surgiu um conjunto numeroso de trabalhos nesta área, particularmente focalizados na possibilidade de acontecimentos indutores de stress poderem ter repercussões sobre o funcionamento imunológico e centrando-se, por exemplo, no luto por viuvez, nas missões espaciais de astronautas e na incorporação militar, entre outros. A investigação nesta área foi também acompanhando a par e passo os próprios progressos dos conhecimentos imunológicos (descoberta dos anticorpos monoclonais, por exemplo) e os desenvolvimentos dos últimos dez a quinze anos permitiram afirmar com segurança que factores psicoló-gicos podem modular as respostas imunológicas e, ao mesmo tempo, permitiram questionar quais as consequências disso para a saúde e para a doença. Assim, a concepção do sistema imunológico como sistema autónomo de funcionamento exclusivamente químico deu lugar, especialmente a partir dos anos oitenta, a uma concepção integrada em que se reconhece que o sistema imunológico está integrado com outros sistemas sendo sensível à regulação do sistema nervoso (Ader, 1983; Rabin, Cohen, Ganguli, Lysle & Cunnick, 1989; Cohen & Herbert, 1996). Deste modo, reconhece-se o papel que as diferentes áreas do funcionamento humano, nomeadamente cognitivo e emocional, pode ter sobre a sua eficiência. Deste modo nasceu a disciplina designada por Psiconeuroimunologia que é o campo científico que investiga as ligações entre o cérebro, o comportamento e o sistema imunológico, bem como as implicações que estas ligações têm para a saúde física e a doença (Kemeny & Gruenewald, 1999). A hipótese base deste modelo é que os stressores psicossociais diminuem a eficiência do sistema imunológico o que leva ao aumento de sintomas médicos (risco de uma doença).
Assim, face a uma ameaça biológica com uma determinada potência, a imunocompetência, ou seja, a capacidade do sistema imunológico proteger o corpo num determinado momento estará relacionada com os factores psicossociais que afectam o sistema imunológico. Entre estes factores contam-se os estados emocionais; o tipo e a intensidade de stress que a pessoa está a enfrentar, as características de personalidade e a qualidade das relações sociais.
Um segundo momento na conceptualização dos desafios colocados pelos acontecimentos de vida sobre a saúde física e emocional começou a ter em conta as características psicológicas e as estratégias de confronto utilizadas pelos sujeitos para lidar com essas situações. Este desenvolvimento assume que o impacto de uma situação no sujeito depende da avaliação que o sujeito faz dela, bem como das estratégias que mobiliza de modo a fazer-lhe face. Assim, enquanto alguns investigadores procuram averiguar o impacto de acontecimentos de vida na saúde e/ou no sistema imunológico; outros tentam diferenciar o efeito dos acontecimentos de vida em função das emoções envolvidas, do estilo cognitivo, ou das características de personalidade da pessoa.
Uma terceira abordagem sugere que o processamento dos acontecimentos de vida, especialmente das situações traumáticas, os significados que os sujeitos constroem, ou as estratégias de coping que vão sendo utilizadas, passam por uma série de fases sobre as quais poderá haver uma intervenção de modo a diminuir os efeitos nefastos sobre o sistema imunológico.
A pesquisa da PNI procura os mecanismos exatos pelos quais efeitos neuroimunes específicos são alcançados. Evidências de interações nervosas-imunológicas existem em múltiplos níveis biológicos.
O sistema imunológico e o cérebro se comunicam através de vias de sinalização. Pelo que se pode falar, também em psiconeuroendocrinoimunologia (PNEI). Pois o sistema endócrino está associado á interação entre comportamento humano e os sistemas nervoso e imunológico do corpo humano.
O cérebro e o sistema imunológico são os dois principais sistemas adaptativos do corpo. Duas importantes vias estão envolvidas nesse cross-talk: o eixo Hipotalâmico-hipofisário-adrenal (eixo HPA) e o sistema nervoso simpático (SNS), através do eixo simpático-adrenal-medular (eixo SAM). A ativação do SNS durante uma resposta imune pode ser destinada a localizar a resposta inflamatória.
O principal sistema de gerenciamento de estresse do corpo é o eixo HPA.
O eixo HPA responde ao desafio físico e mental para manter a homeostase, em parte, controlando o nível de cortisol do corpo. A desregulação do eixo HPA está implicada em inúmeras doenças relacionadas ao estresse, com evidências de metanálises indicando que diferentes tipos / duração de estressores e variáveis pessoais únicas podem moldar a resposta da HPA. A atividade do eixo HPA e as citocinas estão intrinsecamente interligadas: as citocinas inflamatórias estimulam o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e a secreção de cortisol, enquanto os glicocorticóides, por sua vez, suprimem a síntese de citocinas pró-inflamatórias. Assim verifica-se mais inflamação no organismo, menos capacidade da nossa microbiota (sistema imunitário) agir contra esta inflamação.
Além disto, moléculas chamadas citocinas pró-inflamatórias, que incluem interleucinas, interferon e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa) podem afetar o crescimento do cérebro, bem como a função neuronal. Células imunes circulantes, como macrófagos, bem como células gliais (micróglia e astrócitos) secretam essas moléculas. A regulação de citocinas da função hipotalâmica é uma área ativa de pesquisa para o tratamento de transtornos relacionados à ansiedade.
Essas anormalidades e a falha dos sistemas adaptativos em resolver a inflamação afetam o bem-estar do indivíduo, incluindo parâmetros comportamentais, qualidade de vida e sono, bem como índices de saúde metabólica e cardiovascular, evoluindo para uma hiperatividade dos fatores pró-inflamatórios locais que podem contribuir para a patogénese da doença. Esta ativação sistémica ou neuro-inflamatória e neuro-imune desempenha um papel na etiologia de uma variedade de distúrbios neurodegenerativos tais como Parkinson e Alzheimer, esclerose múltipla e dor.